AWT#13: Sandboard no deserto mais antigo do mundo...Namib

Consta que tem 50-80 milhões de anos e estende-se ao longo de mais de 2.000 kms pelas costas de Angola, Namíbia e África do Sul. Hoje fui surfá-lo. Apesar de não haver teleféricos até ao cimo, foi uma manhã muito divertida!

(Não, ainda não há Photoshop para o iPad! Esta é mesmo original ;)

Ao tirar uma foto com a bandeira de Portugal, a americana dona da agencia disse-me:

-So, you're portuguese! I met a Portuguese girl some months ago. She did this twice with me.

-What was her name, do you remember? - perguntei-lhe eu.

-Don't remember. She was not so tall, quite and very interesting - respondeu ela - Maria, that was her name!

-I know her - disse-lhe eu - she's my girlfriend!

-Lucky boy! ;)

Vôo de flamingos ao pôr do sol

AWT#12: Swakop...

Expedição euroasiática iniciada em direcção a Swakopmund, cidade dos desportos de aventura. Estava com medo de algum encontro imediato com algum ser de 4 patas que à noite procura o calor acumulado no asfalto, mas foi mesmo um humanóide de 2 que me assustou ao conduzir pela esquerda, vindo em sentido contrário, numa curva (na Namíbia conduz-se à esquerda). Antes disso uma mulher policia mandou-nos parar para pedir dinheiro para uma bebida. No Brasil já me tinham pedido um guaraná. Aqui o nome da bebida local é diferente, mas a estória é a mesma!

Durante a viagem, os meus parceiros discutiam entre si qual a melhor nacionalidade para um viajante:

Atsushi: -Portador de passaporte japonês viaja para 164 países sem precisar de visto!

Léo: -Ganhei-te! Com um passaporte de Singapura viajas para 167.

Podia lhes contar que metade do mundo já foi nosso (com a benção papal) mas esse tempo já lá vai...

AWT#11: Dia dos Heróis

A Namíbia relembra hoje os heróis da Guerra de independência que opôs o SWAPO (South West Africa People's Organization) ao apartheid da África do Sul entre 1966 e 1988. Fui ao centro tirar umas "chapas", rapar o cabelo (há-que poupar no champô) e dar uma cochilada a digerir o Omangungu (minhocas proteinadas) que me serviram ontem ao jantar no Xwama, um restaurante de cozinha tradicional.

(Vídeo do petisco)

AWT#10: Vida de ho(s)tel

Ficar num hostel é uma experiência cultural única. É um local privilegiado de intercâmbio cultural, partilha de experiências e troca de ideias. Backpackers, ou mochileiros, como lhes chamam no Brasil, são na sua essência, pessoas despojadas, aventureiras e que não têm dificuldade em soltar amarras. 

Hoje partilho o quarto com uma finlandesa, um chinês, uma espanhola e quem quer que seja que venha a ocupar as restantes 2 camas!

AWT#9: German South-West Africa...Namíbia

Apesar das suas 23 primaveras desde a independência da Africa do Sul, a Namíbia é um "ponto fora da curva" para a realidade africana. Rico em minerais (prevê-se que em 2015 sejam o maior exportador mundial de urânio), espaçoso (apenas perde para a Mongólia em densidade populacional) e bastante organizado este é uma das jovens promessas da Commonwealth.

Chegado ao CardboardBox Hostel encontrei os meus futuros companheiros da roadtrip: Atsushi, do Japão, e o Léo, de Singapura, com quem estive a definir o roadbook.

Mais tarde, por sugestão da minha Maria, fomos até ao Joe Beer's Garden provar a carne dos "game": oryx, avestruz, crocodilo, kudu, zebra e Springbok (acho que os Sul africanos não devem achar muita piada de lhes "comer" a identidade nacional! Um ambiente fantástico com companhia internacional: 5 canadianos, 2 italianos, 1 japa, 1 de singapura e um alfacinha ;)

AWT#8: "The terminal", versão 2013

Quando ordenei a pesquisa de voos no skyscanner como sempre faço, i.e. do mais barato para o mais caro, e confirmei a compra não me atentei à duração do voo entre a cidade de São Tomé e Windhoek, capital da Namíbia. Resultado: mais de 20 horas de espera no aeroporto de Luanda. Quando comparado com a estória do iraniano Nasseri que viveu 18 anos no terminal 1 de Charles de Gaulle (caso real no qual o filme The Terminal com o Tom Hanks se baseou), a minha espera foi irrelevante! Para apimentar o episódio, a minha tentativa de me meterem num vôo cujo check in já estava fechado, ocultando o facto que o meu bilhete seria apenas no dia seguinte ainda originou alguma tensão entre os serviços de emigração. "Leve, leve" - respondi eu, tal como se diz em São Tomé para pedir calma!

AWT#7: QUIMPO: decorem este nome!

Os últimos dias nalgum lugar trazem-me, inevitavelmente, uma nostalgia por não saber se irei voltar. Afinal, com tantos lugares únicos no mundo não gosto de repetir figurinhas (aka cromos!).

Mas talvez esteja escrito que terei que voltar a São Tomé e a QUIMPO, uma das comunidades pobres do interior. Vou rabiscar um projeto e vou precisar da vossa ajuda! Novidades para breve! Até já São Tomé!

O nosso amigo Futre diria: "Sócio, sócio...este é o Projeto!"

Francisco, o Professor da primária

Sem barreiras - A cumplicidade de uma nativa, filha de trabalhadores locais, com uma estrangeira, num resort de luxo

AWT#6: Outros mundos... Outros sonhos!

"Seu" Higídio tem 54 anos e o "atelier" dele é este acervo de máquinas velhas. O sonho dele é ver o filho formado em direito e ainda ver o País acabado. Sim, porque segundo ele, desde a independência não há desenvolvimento por estes lados e o País permanece em construção. Tem "apenas 7 filhos", porque tem amigos com "camionetas deles". 

-Camionetas deles? Mas eles têm quantos: 10-15? - questiono eu.

-Não! De 28 a 30! - responde-me ele.

Aviso aos Pais: quando tiverem filhos a fazer pieguices de sopa mal batida ou carne com nervo, mandem-nos passar uma semana aqui na fundação. Ao verem o afinco com que os miúdos comem arroz com feijão, ou soja com massa, como se fosse a última refeição do dia (muitos casos acredito que seja o caso) acredito que lhes passem "as frescuras".

AWT#5: Um canivete... Santomense

Está uma atmosfera insuportável. Recordo-me da viagem à Amazónia, onde os níveis de humidade são igual e estupidamente elevados, parecendo que estou num questionário dos serviços secretos russos. Para ajudar a festa, na Fundação naturalmente não "há ar" (como se referem no Brasil ao ar condicionado). Mas as tarefas não esperam e há-que meter mãos à obra! Hoje podem-me "endorsar" no linkedin como assistente de cozinha (estive a descascar mandiocas com a Lili, chefe de cozinha da Fundação), marceneiro (reparei o palco e uma mesa de pernas partidas que não deve ter resistido aos pulos da pequenada) e ainda motorista (mesmo sem ter carta de pesados andei a guiar uma carrinha de caixa aberta com mais de 30 miúdos atrás) - multiskilled como um canivete suiço.

Diz-me a Lili na cozinha:

-Luís tem filhos?

-Não - respondi eu - mas quando voltar vou viver com a minha namorada e depois tratamos disso.

-Ah, não! Aqui em São Tomé é ao contrário. Primeiro temos os filhos e depois vivemos juntos!

No final do dia, a caminho de casa, abordado por um um grupo de molecada:

-Amigo, amigo, dá uma banana! É melhor pedir que roubar, né?!

-Visto desse ângulo, agradeço-te que tenhas pedido! - retribuí eu.

(É importante referir que desde cheguei nunca senti insegurança por todos os lados onde tenho caminhado)

AWT#4: um sorriso vale mais que mil viagens!

Alguns de vós sabem o que foi difícil procurar um projeto de voluntariado que me abraçasse (sim, porque não julguem que é o contrário) neste período de pouco contributo para a sociedade. Como tudo o que tem de ser ter muita força, na véspera da minha viagem conheci a Cristina Paço d'Arcos, amiga da minha irmã Ana e responsável pela Fundação de Apoio à Criança na cidade de São Tomé.

Fiquei entuasiasmadíssimo com a ideia de poder realmente dar o meu contributo, o meu tempo, e minha energia num projeto social. Hoje foi dia de conto, e lançaram-me o convite para lhes contar uma história. Contei-lhes a minha, começando pelo meu ídolo: Sir Robert Baden-Powell criou um movimento juvenil à escala mundial em torno de valores como a proteção da Natureza, o respeito e amor aos outros e a procura pela aventura!

A exigente audiência (talvez a apresentação na qual mais estive nervoso...) delirou quando, após contar algumas aventuras de viagens comecei a descrever os objetos que carrego na mochila, desde a bússola aos mapas, do canivete suíço à lanterna frontal, passando pela bandeira de Portugal e pelo moleskine. As toalhitas compactas, que se expandem dentro de água foram o toque de magia para os levar ao delírio!

Sempre ouvi dizer que não valemos pelo que temos, mas pelo que damos. E eu hoje, apesar de não ter dado praticamente nada, recebi tanto...

AWT#3: "São Tomé é muito grande pá"

Na companhia da Isabel e do Luís, amigos tugas, e guiados pelo Paulo rumei ao Sul da Ilha uma missão bandeirante ao ilhéu das Rolas. Além de um peixe fantástico acompanhado de banana frita, deliciei-me com a vista no miradouro do Equador.

No regresso cruzei-me com dois moleques com um furo no carro de madeira. A criatividade envolvida na construção daquele meio de transporte meteram o meu canudo de engenheiro mecânico "no saco"!

No final do dia desafiei o Paulo para jantar e ouvir as suas estórias:

-"Luís, São Tomé é muito grande pá"

-Mas quantos vocês são?

-"Cerca de 180 mil"

-Realmente é verdade Paulo!

Diz-me mais tarde:

-"Os meus amigos têm 4 ou 5 namoradas. Eu só tenho uma"

-"Fazes bem Paulo, ter apenas uma é muito melhor"

-"Eu gostava de ter mais, mas não tenho dinheiro. Vivo com a mãe das minhas 2 filhas e por isso só  tenho dinheiro para ter uma"

AWT#2: O DNA luso...e a alegria de viver!

Por 50.000 dobras, a moeda local, a Francisca mostrou-me o museu Nacional que abriga além de exposições de proteção às tartarugas, e artesanato local, um espólio de vestígios palpáveis do tempo do colonialismo nomeadamente a bandeira que foi descerrada no dia 12/07/1975, data do "grito do Ipiranga" local. Claro elemento da escala de tempo desta república democrática é o facto do primeiro presidente...ser o atual: Manuel Pinto da Costa!

À saída, senti-me um transeunte afortunado e vibrei ao som dos ritmos locais com um grupo de improviso. O sorriso, o ritmo e alegria de viver eles foram decerto assimilar com outro povo que não o luso. Talvez a terras de Vera Cruz, na altura da pantalassa, em que éramos um grande continente!

AWT#1: Picado... pela magia de África

@São Tomé e Príncipe

É impossível negar o choque de ambientes entre o aeroporto de São Tomé e o de Lausanne, onde estive há 3 dias atrás. A organização, o silêncio, a temperatura agradável ficaram para trás na minha zona de conforto. Acho que afinal, esta viagem também se resume a isso: uma vontade imensa de sair da zona de conforto. Entre o homem de branco que parece bagageiro mas que quer ver o meu boletim de vacinas e os muitos taxis que caçavam recém chegados lá encontrei o meu caminho para o centro da cidade de São Tomé. À chegada à Fundação de Apoio à criança, instituição onde vou colaborar no que puder e que me deu um teto, tinha o melhor brinde de boas-vindas que alguma vez tive ou terei: o sorriso da Leonor, da Tidi e Daiane.

AWT#0 Até já Lisboa... Vou ali e já venho!

Vivi os últimos dias num ritmo alucinante, muito por conta das mil e uma vacinas que tive que levar, dos medicamentos que tive que comprar, das formas de pagamento que tive que preparar, enfim, o tempo passou e acredito nunca ter interiorizado o simples facto de estar a partir sozinho por um período que, à hora de embarque, me parece absurdamente grande! Como optimista convicto que sou procuro desvalorizar todo esse receio e medo (sim porque nestes meus textos também haverá destas especiarias) que me assola pensando numa frase que aprendi há dias no IMD, quando fiz a entrevista: "If you have everything in control...you're not going fast enough".

All a board...of my backpack!

A Ana Rita disse-me: "tu és doido". O meu irmão Zé Manel: "Não deves ter mais nada para fazer ao dinheiro". Os meus Pais: "ainda pensámos que a Maria te ia fazer esquecer essa ideia". Pois é, mas aqui estou eu nesta aventura.

O nosso poeta disse que "o sonho alimenta a vida" e a minha não sendo excepção, padece de alimento! Aproveitando o tempo entre o regresso de quase 6 anos de Brasil e o projeto MBA, do qual espero ter novidades para breve, eis-me a reviver os tempos de escuteiro, colocando mochila às costas e saindo por aí à descoberta!

O único bilhete ou reserva que tenho é dia 16 de Agosto para São Tomé. A partir de então vou andar por aí a deambular, a descobrir culturas, a cruzar pessoas com as suas histórias, a registar momentos e a coleccionar sorrisos.  Quero sobretudo absorver todas essas formas de conhecimento para ficar diferente. Diz Carlos Vaz Marques, no prefácio de "Disse-me um adivinho" de Tiziani Terzani: "Numa viagem assim, aquele que chega não é nunca exactamente o mesmo que partiu".

Não tiveram tempo de comprar o bilhete para São Tomé? Não faz mal...viajarão comigo também... De outra forma! Espero, muito sinceramente, que este blog agregue algo no vosso quotidiano frenético no mundo corporativo. Tenho a certeza que tenho muitos amigos que partilhando deste meu sonho, por vicissitudes da vida, terão mais dificuldade de o alcançar tal como eu estou a fazê-lo. Se for o teu caso, este blog também é teu! 

Como estamos em crise, e "não há almoços grátis", independentemente do tipo de reacção que este material despertar em vós, partilhem comigo, pois vou adorar receber esse feedback nos momentos mais solitários que me assolarem!Quaisquer dicas, ideias ou sobretudo contatos nos locais de passagem onde possa aterrar o meu saco de cama são muito apreciados! 

Pensei numa volta ao Mundo (a.k.a. Round the World Trip) mas cheguei rapidamente à conclusão que: ou faria uma reedição da Expo'98 e simplesmente coleccionava carimbos de países no passaporte, ou restringia o roteiro privilegiando a imersão na cultura local sem constrangimentos de horários. Chamemos-lhe assim, uma "Around the World Trip" ;)

Roadbook estimado: São Tomé, Namíbia, Zâmbia, Kenya, Tanzânia, Sri Lanka, Tailândia, Laos, Vietname, Cambodja e Malásia.

Boa viagem!